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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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serei eu e maria
- somente.

nem mãe
nem pai
nem sequer resquício de gente nenhuma.

...

desenhei maria ontem:
tem uns cabelos
bonitos de compridos
a pele na feição que gosto.
nem magra, nem robusta


usa tênis vermelho.


...

quando maria chegar
nem saberei as horas
nem se maria chegou mesmo.

maria irá se confundir
entre o céu e a terra

uma onda azulzinha do mar:
que vai e volta.

maria e eu já nos conhecemos
há tempos.

...

a gente só não sabe, ainda,
na imaginação de lá -

como ser maria e eu


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domingo, 14 de dezembro de 2008

Sobre o desejo.

Olhos cerrados -
dizer sobre sonhos de semi-acordado

- meio termo:

entre o constranger do silêncio
ou quase passo (marcado) -

impreciso.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

do trem
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plantas na beira do rio
e o barulho do trânsito
é quase mar.


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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Histórias inventadas para abrigar o corpo com sono.


I.

Me tirou para dançar como se fosse a própria vida.


II.

Eu gosto quando as palavras não dizem
e quando o corpo grita –
silencioso de todo ele -
pelas pálpebras:
abrindo e fechando.
E era assim naquele principio
que inventei agora.


III.

Tudo que invento acaba triste –
é como a gente acha
que acabam as coisas - sempre -
estamos bem de perto.


IIII.

E todo o dia quando te viro pra dançar.


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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

I
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II.

É como desconhecer-se
todo dia um pouco -
numa fração -
e refazer-se no outro
ao cabo.


II.

Um dia antes da partida
reboliçava o estômago
já vazio –
poesia alguma diria
sobre aquela imensidão.


I.
Quando a memória apavorou
lembrança boa,
fez sorriso alforriado
nos lábios
entre os vazios do quarto.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

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Manual para dias chuvosos à olhos livres

I.

A mãe objetou qualquer conjectura
de banho de chuva,
dada a insistência ameaçou castigo.

O menino teimou até o choro
A mãe impaciente disse –
Para que o menino ficasse quieto
Sem pio

As lágrimas fizeram pocinha na mesa
E o menino permaneceu fazendo remelações
com a mãe.

A mãe disse para que inventasse o que fazer
dentro de casa mesmo.
O menino esconjurou que passarinho em gaiola
Não passarinha.

A mãe ralhou.

A mãe lhe entregou um pedaço de papel e lápis -

O menino ainda não sabe que palavra
em folha branca tem chance de infinito.



O menino ensaiou um monstro, vestido feito a mãe,
E furou o infinito do papel riscando a mesa.
Disse pra mãe que o lápis choveu fora do telhado

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

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o vestido,
a toalha de mesa,
o pano de pia,
o de cima do fogão
os azulejos
as pernas todas
os copos todos
aquele coador de café velhinho.

Estas coisas todas,
da casa da minha avó,
sabem de tudo daquela cozinha:
cada manchinha,
cada amarelado do tempo -
e fariam as reminiscências:

do lugar
das gentes
e dos bichos

simulariam a ladainha
de antes do almoço
cantada por minha avó.

Parece que minha avó
Incrustou o lugar de si
Inclusive os cacos invisíveis
da louça quebrada –

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quinta-feira, 31 de julho de 2008


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Ontem peguei na fala da mulher
vestida de vermelho a palavra sorver:


achei que os pássaros sorviam a manhã no canto
que as ondas sorviam o mar no pranto

que sorver antecede as coisas -
como o silêncio


.que, talvez, o bom da fantasia do verbo
- no poema -
está em sorver imagens pra fora do mesmo lugar.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Beco do Mocotó


Fica na esquina,
entre a avenida de trânsito carregado
e outra menos movimentada -
dormitório de teto estrelado.


passam por lá
todos os tipos
entremeiam discussões:
de todos os timbres
aos gritos


tem também aquele tipo
quieto,
com a raiva entre os dentes
e a faca no cós da calça

mulheres;
freqüentam o lugar:
são os motivos
das rinhas
entre os homens
que fedem um suor azedo
e abraçam as mulheres
que exalam colônia barata.


Há também o tipo
louco quixotesco
acompanhado de um cão,
fiel.

Convivem:
Profetas
Cegos
Bêbados de carteirinha
Trabalhadores
Crianças
Policia
Cachorros
Garçons
Ratos
Varejeiras
Mulheres que exalam
Colônia barata
E o dono do lugar.


No beco do mocotó
todo mundo é livre
para ser o que é –
com uma ressalva -
pagar a conta.

domingo, 15 de junho de 2008

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Para que a moça, secretária do escritório de advocacia volte;
Seu Tércio, 42 anos, escrivão há 20 deles
carimba o protocolo da terceira via do documento,
Errado.
Em casa se delicia lembrando o sacolejar irritado
De quando ela volta e mesmo brava, diz:
- bom dia!Seu Tércio – com os lábios doces
melados de batom vermelho.
o selo vai embora certo.


A mulher de seu Tércio
sabe, que quando ele chega
do trabalho, gosta de acender
um cigarro, sentado na varanda,
e que odeia ser incomodado.


Seu Tércio sabe que a mulher gosta
de Admirá-lo assim:
Sereno.
(Lembra um Tércio do passado).


Quando Mercedes conheceu Tércio,
ela achou que ele fazia aquilo de propósito,
para poder sempre vê-la assim -
toda atenciosa com ele.

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

poema descabido
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mesmo as coisas
mais usadas
servem
para poesia



o mais,
é desarranjar
os verbos.


Coisa mais
difícil em poesia
é usar do verbo
disfarçado.


e sabemos:
que as coisas em
desuso servem mais
para objetar o verbo.

no principio
foi o descabimento
verbo.

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segunda-feira, 14 de abril de 2008

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O menino bamboleava os braços – girando em si –
no ar

depois parava.


A mãe perguntava:

- Que isso menino, bilolou?

- não, isso é para arranhar o som do silêncio.

-E silêncio tem som?

- tem sim.


O menino tapa um dos ouvidos e, no outro,

coloca a mãozinha em forma de concha.

Faz com que a mãe repita o gesto.


- Tá vendo! É o barulhinho do silêncio.


O menino acha que a mãe não entendeu.

(é que o som do silêncio corre nas veias).

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Poema pra por o mar.

E era tudo seco

sem sal

quieto

Até a água

bater na pedra

e retornar.

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sábado, 12 de abril de 2008

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Profilaxia


Faz mal ao poema

O dicionário Aurélio

O pasquale cipro neto

A opinião de quem não o ama



o analgésico

o anti-térmico

e o anti-transpirante.


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quarta-feira, 26 de março de 2008

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Depois da Morte do Cão

Os olhos já não freqüentavam os espaços que lhe eram casuais – eram fora. Havia caminhado, talvez, a vida toda. Parece-me, observando de longe, que veio assim já livre – nem casa, nem apegos. Errante. Deve ter passado tempos duros, principalmente os primeiros de uma incapacidade logo superada pela necessidade estranha de continuar. Assemelha-se aos errantes do lado de cá, a diferença está na liberdade, que apesar de dura, é menos previsível. Podia tanto acabar esfacelado, como de fato acabou, como também não haver passado dos primeiros dias.

Suas tripas furaram seu corpo de dentro pra fora – o que impressionava eram os olhos saltados entre um quase viver e a impressão da morbidez que olhos assim nesse estado possuem – sem brilho. Mas porque diabos depois de tantos anos por ai, logo hoje, esse tal investe louco contra o ônibus? Esse ônibus de número sete sempre vira a direita depois da farmácia de nome droga Sete – isso mais pela proximidade a tal rua do que pela fama cabalística de tal número, e isso tudo não tem importância – mas é licito lembrar que o cão não possui sete vidas.

Houvesse chovido como ontem estaria ele em abrigo da chuva e menos transeunte como hoje pela manhã – é noite agora e tento dormir, mas a imagem do cão – os destroços do cão – não me sai. Agora mesmo estava sonhando com uma relembrança infantil e memórias inventadas. No sonho era meu aniversário e eu, como todo clichê de filme, queria um cachorro – quando a caixa enorme chegou das mãos de meu pai, meu pai tinha a feição do motorista do ônibus chegava a estar de uniforme, eu ouvia os gemidos daquele filhote encaixotado pelos furos feitos pra respirar. Meu pai postava a caixa no chão, ao abrir a caixa os gemidos se transformaram em grito agudo de dor final - dor consciente de morte – o cachorro, ou aquelas partes que lembravam um cão – eu olhava ao redor e só via pessoas desconhecidas e minha mão estava repleta do sangue do bicho. Não sei por que não consigo dormir – esse foi meu primeiro encontro com tal cão e sinceramente não sou afeito aos bichos, muito menos um cão fedido. Mas corre em câmera lenta a cena toda do atropelamento – diriam que fiquei impressionado.

A pata estava torcida como um pano e os pequenos filamentos musculares da outra parte estavam em leque – os pelos se misturavam com o sangue e este com óleo de freio – algumas partes estavam chamuscadas – como que queimadas – deve ser pelo fato de que o cão fôra arrastado por alguns metros. Algumas pessoas cessavam o caminhar, olhavam enojadas, seguiam para seus afazeres com alguma tristeza passageira, as mães com crianças apontavam vitrines para que não olhassem – e o cão ficou lá.

Naquela tarde eu estava saindo da escola, voltava sempre a pé, chutando coisas e me demorando muito vendo outras – me dava algum prazer observar os insetos principalmente formigas e suas trilhas de mantimentos. Chamou-me a atenção naquela ocasião uma moita que muita se mexia contra o vento, fuçando lá, retirei um pequeno cão – faminto – com algumas moedas no bolso o alimentei com um pão e deixei minha camiseta com ele. A noite de certo que esfriaria e isso me custou além da surra uns dias de castigo. No dia seguinte não havia nada na moita, mais adiante alguns moleques amontoados, um deles com um pau fino de galho de arvore na mão, cutucavam um saco preto de lixo, um deles conseguiu vazar os olhos do cão. Especulamos que alguém, como não findava o choro noturno do desmamado, resolvera o problema com um simples saco. Continuamos o caminho da escola.

O cão investia destemido contra a proeminência do ônibus, era uma batalha épica. O cão andou emparelhado com o ônibus, latia alto em tom de fúria. Eu cá da calçada ficava olhando a bravura do pequeno animal desnutrido, fraco e destinado à derrota. O cão em gesto de esforço final, sua língua já não habitava sua boca, ultrapassou a roda dianteira esquerda do ônibus.

Quase nunca tenho vontade de ir ao banheiro a noite. Levantei. Um barulho vinha da despensa, barulho de coisas sendo rasgadas violentamente. Acendi a luz do cubículo. Hoje passei perto da Rua sete, tudo não passava de uma mancha no asfalto.


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terça-feira, 25 de março de 2008

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Quando a chuva passou.

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Quando a chuva passou,

isso foi hoje pela manhã

subiu um cheiro de terra molhada

do que sobrou de terra no quintal

(canteirinho minguado).



lembro do encardimento

do barro nas peças brancas,

do azul anil da água

antes da roupa quarar ao sol


- e das broncas.


e de quando desenhava um sol

com giz de construção

para depois da chuva

secar o quintal

mexer no barro para

fazer lama.




Quando a chuva passou,

sobraram algumas poças

umas paredes molhadas

tristeza boa de lembrança.



em dias de chuva

espreitávamos da janela

a chuva molhar as roupas

do varal,

enquanto desesperada

a mãe corria acudir

a roupa branca.


a mãe precipitava

engraçada

arrancando as

roupas do varal

a gente se ria,

e morria de medo

de a mãe ver que riamos.



Quando a chuva passou,

-Saí do abrigo da marquise ,

agora é um medo,

coisa de correr da chuva

e correr

para algum lugar.

Coisa que não se tem em

criança.



Quando chovia,

a gente queria mesmo

era se molhar.



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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

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Quando eu comi um tatuzinho,
em criança,
tinha gosto de terra
ou é essa a palavra
pro gosto que não lembro


a gente mexia nuns paus velhos
daí saiam as nossas crias:

Tatu-fada
que voava da mão e se perdia,
esse trocava a vida pelo desejo.

Tatu-prenha
morrida de parto

Tatu-carro, tatu-palhaço,
tinha tatu de tudo
menos tatu-tatu.

Aquilo lá era um circo
tinha tatu-equilibrista


a gente nem vendia, nem trocava
vinha a noite cabeluda
cobria tudo
e a gente não fechava a caixa
tinha uns buracos pra respirar

tatu amanhecido
tinha o sopro de deus


eu não lembro o gosto
da terra
nem da vontade
de comer.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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exercício em primeira pessoa.

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Não posso inventar as coisas que já existem:
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- posso desocupá-las

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me deram algumas armas.

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Imitação da nudez.


Seus cabelos
cairiam
no colorido
dos móveis
das frases.

e nos silêncios
descobriríamos
a casa vazia.

faltaram
talvez
a consistência
das pilastras
e dos vazios.

ficam
as palavras.

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