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terça-feira, 27 de setembro de 2005

E todos viveriam felizes para sempre
se o minuto único fosse eterno


As crianças brincam de policia e ladrão
simulam com paus e pedras
(Bandidos, fardas, Bandidos).
as cenas da vida real
que elas fantasiam,
brincando de matar e morrer
(CRIANÇAS)
Crianças correm pelas ruas do subúrbio.
Encenam a realidade como travestidas em alegria
e a sensação única de imortalidade

Todas as noites
são saudadas ao som de tiros
insones
...
sonhos perdidos

quarta-feira, 14 de setembro de 2005


Relógios aparentes.

Na sala de espera, silêncio, o tic tac do relógio, a esquerda uma mulher bate aflita o pé no chão sem parar, olha em volta um homem meia idade lê revista velha e virando a página nega a anterior, um sujeito a direita tosse sem parar na mesa a frente a recepcionista ao telefone dando risadas que mudam de tom fazendo caretas como se quem estivesse do outro lado pudesse ver, em cima uma tv. Três colheres de manteiga, duas xícaras de farinha, fermento.Não vê hora de chegar sua vez contando os que foram tomar cigarro e fumar café são dez na frente, pensa em desistir retornar, voltar pra casa, acordou as cinco e toda a historia de sempre. Lotados perfumes irrespiráveis conversas crianças chorando acuado, perto da janela, uma mulher enorme ao seu lado o espreme no canto, se afasta ela aproxima, pensa que não vai poder ter mais filhos se continuar ali, mas fica. Talvez não demore muito e sua vez chegue, perto da janela, talvez no décimo andar, não sabe direito, a muito desistiu do elevador, as pessoas perto demais o afligem como a gorda que o espreme de encontro ao vidro. Um rosto na sala parece familiar, não entende, muitos rostos lhe parecem familiar. Olha as horas quase meio dia, algo dentro dele diz, deve sair, uma moça também se levanta e o segue, pelas escadas, até o andar da copa. Biscoito água e sal café amanhecido. Qual seu nome, é interpelado por tal pergunta com a boca cheia, engole seco, depois despeja o café semi-amargo e quase morno. Responde. Para os que me cruzam é melhor desviar o olhar, da sarjeta, do banco do saco com cola na mão do moleque, a civilização do desvio. Depois de atendido sai, prefere andar a pé algumas quadras, não percebeu a chuva e desvia das poças é quase noite e gosta de ver o transito refletido em vermelhos nas poças. Como se mareado ainda sente a pressão da mulher do ônibus. O mundo empurrando contra a parede, enquanto o tempo parece devegar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Televisão de cachorro.

Praticando delitos desproporcionais a seu corpo que antes do almoço e depois e amanha e ontem ficara sentado na frente do computador, pelos corredores distribuídos num galpão, lojas vitrines produtos simétricos como o (e) terno azul obrigatório camisa branca amarela de muito velha. Quantos anos, quantas horas - é melhor não pensar em unidades mínimas. Pelo corredor longo passam: verdes, vermelhos, azuis uma infinidade de cores, fontes, distorções plásticas e visuais de vários formatos; arredondados geométricos absurdos.Câmeras seguem-se pelos corredores vazios, o seguem, as câmeras e o cão que desde a rua o seguiu, o espera na porta pronto para voltar ao mesmo lugar, observa os frangos que giram dentro da máquina na padaria, que observavam a máquina que triturava frangos no frigorífico: homens de branco - dois pães, não três.O cachorro. Pensa no cachorro, dois ou três? – Quatro, eu quero quatro, sai.O cachorro ignora o pão e o segue não sabe voltar.Senta numa praça come bebe, muitos pombos pontes pessoas carros, agora ainda faltam minutos, engole anda, o cachorro-esse maldito cachorro, pensa.Seguem na rua lojas, uma padaria, frangos rodando, pede uma cerveja, ainda tem cinco minutos, parado vendo os frangos rodarem, o cachorro, bebe a cerveja compra o frango, balança o rabo, o segue, volta para o mercado da o frango ao cachorro.Os malditos homens de branco, aqueles safados cobram um absurdo por esse plano de saúde pensa, a culpa não é deles, e o maldito cachorro não sabe voltar agora.Horas, sai do trabalho seguem-se luzes amarelas, asfalto, aflito pega o ônibus lotado.Pessoas, muitas delas muito perto, muito quente - seu safado! Desculpas. Freada forte. Pessoas se amassam, muitas -seu filho da puta!Num ta levando sua mãe!Desce já está no prédio sujo uma pechincha por mês com café da manhã e roupa lavada, a camisa muito velha amarela, no escritório torcem o nariz.Deita. Do bolso chocolates amassados disformes.