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quinta-feira, 3 de novembro de 2005

I.

Junto todas as coisas:

deverbos e
respostas
Anônimo faço coleções.



- Hei, menino!? O mundo é inabarcável.
E ele junta os cacos de mão nua.

II.

O sol nasceu atrás de nuvens gordas.
Vermelho derramado sobre o amarelo,
Entardece.
Entre metades convexas,
Dorme.

III.

Com a mão nua é possível tocar o sol.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005



Quarto. Consegue ver nos espaços ocupados, as ausências. No canto esquerdo, onde as paredes se encontram, a luz incide de forma diversa em cada uma delas, seu corpo é divido por uma sombra, a janela próxima, fuma um cigarro. Os olhos, lentos, e a noção do todo palpável.Bate o pé como se ouvisse música. Olha a fumaça saindo.
Abre a porta, sente o cheiro das suas coisas, está em casa. No sofá o corpo reclinado olha os próprios pés, cansaço, o mundo ainda corre por seus olhos, seu corpo ainda corre por seu corpo, mas está ali no canto do sofá. É preciso frear.
O corpo caído na faixa de pedestres. Atravessando com o acumulo de ausências e teorias de sobrevivência, com coragem, não se pensa, encerra-se. Acredita ainda, não sabe o porque. Esgueirar-se, teoria primeira. Uma borboleta pousa no canto do banco onde descansa, quanto tempo não via uma dessas. Correndo tenta pegar, pede ajuda, suas pernas dão curtos passos, seus braços esticados são metade. Asas fechadas. Era amarela, gosta do amarelo das borboletas, principalmente gosta de quando vê borboletas. Relógio, e ela já não estava mais ali.
Com as mãos na cabeça com medo de que ela caia, um fio de sangue entre os cabelos, e mareado abre a porta. Lento, o corpo se movia lento, sentado nas próprias pernas, a mão dançava pela cabeça procurando reconhece-la como um todo ainda. O sinal estava amarelo.Susto.A Luz incidiu forte e radioativa. O quarto era branco.

terça-feira, 27 de setembro de 2005

E todos viveriam felizes para sempre
se o minuto único fosse eterno


As crianças brincam de policia e ladrão
simulam com paus e pedras
(Bandidos, fardas, Bandidos).
as cenas da vida real
que elas fantasiam,
brincando de matar e morrer
(CRIANÇAS)
Crianças correm pelas ruas do subúrbio.
Encenam a realidade como travestidas em alegria
e a sensação única de imortalidade

Todas as noites
são saudadas ao som de tiros
insones
...
sonhos perdidos

quarta-feira, 14 de setembro de 2005


Relógios aparentes.

Na sala de espera, silêncio, o tic tac do relógio, a esquerda uma mulher bate aflita o pé no chão sem parar, olha em volta um homem meia idade lê revista velha e virando a página nega a anterior, um sujeito a direita tosse sem parar na mesa a frente a recepcionista ao telefone dando risadas que mudam de tom fazendo caretas como se quem estivesse do outro lado pudesse ver, em cima uma tv. Três colheres de manteiga, duas xícaras de farinha, fermento.Não vê hora de chegar sua vez contando os que foram tomar cigarro e fumar café são dez na frente, pensa em desistir retornar, voltar pra casa, acordou as cinco e toda a historia de sempre. Lotados perfumes irrespiráveis conversas crianças chorando acuado, perto da janela, uma mulher enorme ao seu lado o espreme no canto, se afasta ela aproxima, pensa que não vai poder ter mais filhos se continuar ali, mas fica. Talvez não demore muito e sua vez chegue, perto da janela, talvez no décimo andar, não sabe direito, a muito desistiu do elevador, as pessoas perto demais o afligem como a gorda que o espreme de encontro ao vidro. Um rosto na sala parece familiar, não entende, muitos rostos lhe parecem familiar. Olha as horas quase meio dia, algo dentro dele diz, deve sair, uma moça também se levanta e o segue, pelas escadas, até o andar da copa. Biscoito água e sal café amanhecido. Qual seu nome, é interpelado por tal pergunta com a boca cheia, engole seco, depois despeja o café semi-amargo e quase morno. Responde. Para os que me cruzam é melhor desviar o olhar, da sarjeta, do banco do saco com cola na mão do moleque, a civilização do desvio. Depois de atendido sai, prefere andar a pé algumas quadras, não percebeu a chuva e desvia das poças é quase noite e gosta de ver o transito refletido em vermelhos nas poças. Como se mareado ainda sente a pressão da mulher do ônibus. O mundo empurrando contra a parede, enquanto o tempo parece devegar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Televisão de cachorro.

Praticando delitos desproporcionais a seu corpo que antes do almoço e depois e amanha e ontem ficara sentado na frente do computador, pelos corredores distribuídos num galpão, lojas vitrines produtos simétricos como o (e) terno azul obrigatório camisa branca amarela de muito velha. Quantos anos, quantas horas - é melhor não pensar em unidades mínimas. Pelo corredor longo passam: verdes, vermelhos, azuis uma infinidade de cores, fontes, distorções plásticas e visuais de vários formatos; arredondados geométricos absurdos.Câmeras seguem-se pelos corredores vazios, o seguem, as câmeras e o cão que desde a rua o seguiu, o espera na porta pronto para voltar ao mesmo lugar, observa os frangos que giram dentro da máquina na padaria, que observavam a máquina que triturava frangos no frigorífico: homens de branco - dois pães, não três.O cachorro. Pensa no cachorro, dois ou três? – Quatro, eu quero quatro, sai.O cachorro ignora o pão e o segue não sabe voltar.Senta numa praça come bebe, muitos pombos pontes pessoas carros, agora ainda faltam minutos, engole anda, o cachorro-esse maldito cachorro, pensa.Seguem na rua lojas, uma padaria, frangos rodando, pede uma cerveja, ainda tem cinco minutos, parado vendo os frangos rodarem, o cachorro, bebe a cerveja compra o frango, balança o rabo, o segue, volta para o mercado da o frango ao cachorro.Os malditos homens de branco, aqueles safados cobram um absurdo por esse plano de saúde pensa, a culpa não é deles, e o maldito cachorro não sabe voltar agora.Horas, sai do trabalho seguem-se luzes amarelas, asfalto, aflito pega o ônibus lotado.Pessoas, muitas delas muito perto, muito quente - seu safado! Desculpas. Freada forte. Pessoas se amassam, muitas -seu filho da puta!Num ta levando sua mãe!Desce já está no prédio sujo uma pechincha por mês com café da manhã e roupa lavada, a camisa muito velha amarela, no escritório torcem o nariz.Deita. Do bolso chocolates amassados disformes.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005










Sinônimo das minhas coisas.


Anônimo perto de mim:
Vejo-me.


O espelho é o lugar comum
de todas as descobertas.

Forma.

terça-feira, 5 de julho de 2005



Das Cismas

Amanheceu morto a pauladas
Um homem no beco

O mesmo beco
Onde são jogados ratos mortos
Sofás velhos
A ninhada de gatos e cachorros vira-latas
O beco é a roda de enjeitados do subúrbio.

quarta-feira, 29 de junho de 2005

Poema das Lacunas.

Ver.

Copo d’água.
Filtro


o mundo escorrido.
Uma gota.

segunda-feira, 13 de junho de 2005


Foto por Dada Tida

Poema dos refúgios

Ficar de porre
Retornando ao mundo tudo outra vez

é impossível tomar alegria.

Morar dentro de si
e ser despejado

Trabalhar seu trabalho e ser consumido por ele.

quarta-feira, 8 de junho de 2005



Definição do outro

Achar a palavra que resume, contendo na sua forma despida, sem acréscimos, o conteúdo.

sexta-feira, 3 de junho de 2005





Fragmentos.
Sobre o que quer conversar, pensa, mas não há ninguém por perto, fala sozinho, em silêncio, que é para ficar ainda mais introspectivo.Sentado, agora, não que estivesse andando, desconhece o estado anterior de ser, a um minuto atrás o que era, não sabe, não guarda no bolso o esboço do minuto atrás.
Não que precisasse desse minuto atrás, na verdade desconhece a necessidade do antes.O antes é para ser esquecido entre as linhas de um livro já lido. Como se cada pagina lida, levasse consigo o momento. Sabe que elas levam, buscar na releitura o momento esboço, é impossível.
Distingui no olhar alheio o interesse, não sabe lidar com isso, refúgio no silêncio e na não palavra, frases que nunca dizem nada, virando a página antes do último parágrafo.
Tentativa, dormir: e deitado, buscar o sono ao tentar compreender o dia.O acumulo de tentativas, todos os dias, após algumas horas, leva ao sono.Um olhar desfocado sobre as cores, a cor de brilho mais intenso sempre prevalece.Tentar diferenciar no borrão quem brilha mais.O mundo? O mundo é cinza, e o sono cai, cerram-se os olhos, um após o outro, como cai uma cortina empoeirada num teatro abandonado.O espetáculo do mundo.Desenhar a mão livre um circulo e ver que ele é sempre torto.
--

Encontro um universo colide falar de coisas maiores não significa ser maior

As cores mescladas nas ruas, em velocidade, borrão.Pelo contraste é que se conhece, distinguir das coisas o que é primeiro, imediato ou o que será necessário. Hoje o dia acordou cinza e liquido, o transito não espera a resolução, age pela ameaça. Nos carros fechados os vidros embaçam: ver os rostos sem foco através.Uma pessoa passa a flanela por dentro, por pouco tempo é um rosto, desconhecido.
No ponto - meio liquido- da o sinal, entra meio liquido pelo corredor prestes a virar gás, todos respirando juntos o ar de desfaz, abrem-se em fresta algumas janelas e vão todos ficando mais sólidos.A chuva aperta cerra-se o ar, constante tosse à esquerda, em pedra alguém dorme agarrado ao ferro, os vidros se embaçam, desenhar neles um novo mundo, passar a mão e ver o carro ao lado.


Nascem fragmentos
de poemas e pessoas
num mesmo intervalo

terça-feira, 17 de maio de 2005

Acabar com as unhas e sangrar os dedos.

Encontrar apoio no desconforto causado pelo Mundo e esgueirar-se pôr dentro, tentando sair e continuando preso. Correndo, pensa.
5 horas, batia o cartão, almoçou não, sem tempo, impostando a renda. Contador, sua profissão...Costuma deixar as coisas assim mesmo, de como eram quando veio ao mundo.Veste a roupa, outra vez atrasado, perder o emprego, e como ler um mundo sem ele. Seu pai lhe dizia, quando pequeno - o que mesmo? Não lembra.
Quando criança gostava de sentir o vento batendo no rosto, a mãe dizia brisa.A mãe fazia doce, acariciava sua face antes de dormir.
Desperta - na privada- a calça arriada. Que dia é hoje, se pergunta.Chacoalha a cabeça, levanta, 2 horas da tarde, domingo. Bebeu demais na noite anterior.Ainda bêbado, o efeito do álcool parece não terminar, sente os móveis girando, em decúbito dorsal cai sobre o sofá.
Bateu o cartão, em atino sai do prédio, entra no ônibus.Em atino sai do ônibus.
Corre.
E correndo os vultos do que vê: imagem verossímil do Mundo.

sexta-feira, 13 de maio de 2005



Por terminar.

Há quanto tempo ando vagando por estas ruas, na verdade não sei se são ruas, o homem na calçada especula o fim das ruas.Ruas; ruas são casas janelas paredes bebida cama rua via subentendido mantimento.Entre as inúmeras pessoas que passam apenas espaços mínimos por onde penetrar. Frestas.Continua a tentar desviar das pessoas, mas elas sempre tentam também e de novo, com a cara na cara de um cara -podia ser uma linda mulher, mas é um rabugento velho com seu velho guarda chuva com sua velha roupa cheirando a ele mesmo.Nas ruas não reinam mais os heróis sérios e fechados, esses podiam morrer completos - a rua era deles. Agora transitam inúmeras inquietações cachorros carros guardas mulheres crianças com mães sem mães pais maridos lojas serventes professores toda uma infinidade seres e um só e nenhum e muitos e poucos e bizarros sozinhos dispares.Senta-se no meio fio meia poça de lama na sua cabeça, um carro que passa.Molhado, agora mais vulnerável a ação do vento, livre dos esbarrões.
Passa a rua, anda, ele ser imóvel enquanto gira - mundo – um disco riscado que se repete sibilante ensurdecedor, mas impossível de ser desligado, o grande braço é quase imóvel, repete apenas os mesmos movimentos.Rígido.
A rua se desfaz em sinônimos. Antônimos trafegam por ela, um esbarrar de considerações confusas, nessa grande heterogeneidade de odores. Ele agora segue o cimento das calçadas até sua casa, o homem das ruas o segue, continua a especular seu fim e o fim, a gritar.Desesperado entra em casa.
- Hoje mais de não sei quantos quilômetros de congestionamento...É a Tv ligada.
xxx
Dentro, agora, sua casa, a tv ligada, o homem do jornal, que sustenta a anos a mesma face: um olhar desses escritos em algum manual de jornalismo televisivo.Como se não conseguisse ver na tela, nada além da face do homem do jornal, fecha os olhos.Dorme.
As coisas na casa parecem frias, os móveis, a disposição das antigas fotos familiares: à esquerda, na parede, o pai desfigurado pelo tempo, a seu lado, a mãe. Deitado na cama tem calafrios, ouve a voz que lhe seguia pelas ruas.Talvez, semiconsciente, sente o intervalo entre estar acordado e dormir, fica nesse estado, mas persiste.Dormir. Precisa dormir. Tédio, grande adjetivo de sua vida, para enfrenta-lo, resta dormir.Forma passiva.
Em sonho, anda pelas mesmas ruas, não reconhece as fachadas, as lojas não estão onde costumavam estar, as calçadas são maiores, ou há escassez de pessoas nelas, os rostos continuam fechados.Segue as calçadas até sua casa.Uma criança sentada na porta o observa como se o conhecesse, o persegue com olhar, convida-o a entrar.Entra.Na cozinha é preparado o jantar, são 6 horas. A criança, um menino, se exalta.Agora ao pé da porta a figura de um homem grande e cinza, alinhado em seu terno, sua face parece cansada, o homem da porta entra.Na mesa o menino parece distante - observa a mãe, olha fixamente em meio sorriso para o canto da sala onde esta a poltrona vazia.Come, mas não olha para comida, mastiga devagar, entre o sorrir e o mastigar, o pai o observa, mas seu olhar é distante e não chega a tocar o menino. A mãe passa a salada ao marido.

--

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Alguns

Mazelas

Às vezes me sinto de burca
Às vezes estou nua
Na rua a feição dos bois é a mesma
muda o nome e tudo continua
Às vezes me vejo rouca
Às vezes estou muda
Lembro de quando o seu espelho me refletia
E de quando não me via.

xxx


Vulto

Lembrei seu rosto
Num rosto ambíguo
Que passava.
Meu rádio
Viciado
Na mesma sintonia.

xxx

(...)"bonecas barbie não tem cerébro".
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primeira impressão

O mundo é um emaranhado
de odores visuais
Indecifráveis

O centro, frontal, não corta
o corpo rente.

Da fila se espia
o homem que passa.

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