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quarta-feira, 14 de setembro de 2005


Relógios aparentes.

Na sala de espera, silêncio, o tic tac do relógio, a esquerda uma mulher bate aflita o pé no chão sem parar, olha em volta um homem meia idade lê revista velha e virando a página nega a anterior, um sujeito a direita tosse sem parar na mesa a frente a recepcionista ao telefone dando risadas que mudam de tom fazendo caretas como se quem estivesse do outro lado pudesse ver, em cima uma tv. Três colheres de manteiga, duas xícaras de farinha, fermento.Não vê hora de chegar sua vez contando os que foram tomar cigarro e fumar café são dez na frente, pensa em desistir retornar, voltar pra casa, acordou as cinco e toda a historia de sempre. Lotados perfumes irrespiráveis conversas crianças chorando acuado, perto da janela, uma mulher enorme ao seu lado o espreme no canto, se afasta ela aproxima, pensa que não vai poder ter mais filhos se continuar ali, mas fica. Talvez não demore muito e sua vez chegue, perto da janela, talvez no décimo andar, não sabe direito, a muito desistiu do elevador, as pessoas perto demais o afligem como a gorda que o espreme de encontro ao vidro. Um rosto na sala parece familiar, não entende, muitos rostos lhe parecem familiar. Olha as horas quase meio dia, algo dentro dele diz, deve sair, uma moça também se levanta e o segue, pelas escadas, até o andar da copa. Biscoito água e sal café amanhecido. Qual seu nome, é interpelado por tal pergunta com a boca cheia, engole seco, depois despeja o café semi-amargo e quase morno. Responde. Para os que me cruzam é melhor desviar o olhar, da sarjeta, do banco do saco com cola na mão do moleque, a civilização do desvio. Depois de atendido sai, prefere andar a pé algumas quadras, não percebeu a chuva e desvia das poças é quase noite e gosta de ver o transito refletido em vermelhos nas poças. Como se mareado ainda sente a pressão da mulher do ônibus. O mundo empurrando contra a parede, enquanto o tempo parece devegar.