para completar o silêncio -
que é mais agramatical que a fala -
silenciar o pretérito mais que perfeito
Para a moça que esqueceu seus óculos de poesia no ônibus lotado
Senta,
tem coisas pelas pálpebras e pêlos
teus e dos outros
que ainda não sabem sê-las -
se repetem
repara:
seus olhos atrás das pálpebras
onde a palavra é gorda de poesia
e se esconde.
é que poesia vem de quando existe
um azul que não tem nome de cor
de quando o verbo tem o erro da falação
de criança que gosta de ver com os olhos:
do bolso furado
das coisas sarjetas
e das querências –
poesia vem de verbo narrado
em ônibus lotado –
também
Beijei maria dos pés ao início
até trocar a sintaxe de minha boca
Maria chora em redondilhas:
poesia dela sai detrás do olho,
como se perde o infinito na curva -
e a gente mesmo não vê mais,
acha que acabou,
e não vê fim
Para maria fiz um soneto que perdi,
Dizia quase assim :
“de tudo que é eterno serei fraco
antes, com descuido, do que pensado”
até trocar a sintaxe da boca:
na fome insaciável que a gente
tem de si – maria e eu
no baile dela eu me perco -
E eu quis meu caos, minha cama -
e é como descrever sua beleza
pelos pés, não pelos olhos
Uma vidinha cotidiana dorme-acorda
em peito outra vez aberto -
nem carma, nem calma
uma carne outra vez crua
seu sexo no meu cais
árvore centenária de raízes expostas
sem sono descanso cansaço
embebidas
ela
eu
(de oficina irritada)