Páginas

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010






é preciso saber conjugar os tempos verbais
para completar o silêncio -

que é mais agramatical que a fala -


silenciar o pretérito mais que perfeito













domingo, 19 de dezembro de 2010

Para a moça que esqueceu seus óculos de poesia no ônibus lotado








Senta,

tem coisas pelas pálpebras e pêlos

teus e dos outros

que ainda não sabem sê-las -

se repetem

repara:

seus olhos atrás das pálpebras

onde a palavra é gorda de poesia

e se esconde.

é que poesia vem de quando existe

um azul que não tem nome de cor

de quando o verbo tem o erro da falação

de criança que gosta de ver com os olhos:

do bolso furado

das coisas sarjetas

e das querências –

poesia vem de verbo narrado

em ônibus lotado –

também






segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

erro de continuidade



tenho olhos

que demoram certo tempo
em decifrar não-palavras

um gesto
precisa dos
olhos do corpo
descodificando-os


há que se perder o tempo
quando se tenta -
com olhos do corpo,

decifrar o outro


tenho olhos do momento depois -


e a sintaxe da boca desarticulada
com as despalavras
do corpo




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Acordou - ainda - naquelas intermitências;


juntou coisas desarticuladas do querer:

saudades

noites claras

sacolas, beijos, pernas

cabelos caídos

esquecidas peças

juras

e desmemórias -



num saco
as coisas desvolumosas
do querer.